terça-feira, 29 de março de 2011
bollocks
vermelho
With eyes cold and grey
You got me moving in a circle
I dyed my hair red today
I just want a little passion
To hold me in the dark
I know I've got some magic
Buried deep in my heart yeah
But my priest says
You ain't saving no souls
My father says
You ain't making any money
My doctor says
You just took it to the limit
And here I stand
With this sword in my hand
You can say it one more time
What you don't like
Let me hear it one more time then
Have a seat while I
Take to the sky
My heart is like the ocean
It gets in the way
So close to touching freedom
Then I hear the guards call my name
segunda-feira, 28 de março de 2011
o que vai pelos olhos dentro
quando conseguimos e os fechamos.
domingo, 27 de março de 2011
enquadrar a mestria de poucos
As coisas, por exemplo, começavam todas pelo princípio e acabavam no final. Por isso, nesse tempo, para ele tinha sido uma grande surpresa, e nunca mais as esquecera, umas declarações do cineasta Godard onde dizia que gostava de entrar nas salas de cinema sem saber quando é que o filme tinha começado, entrar ao acaso em qualquer sequência, e ir-se embora antes do filme ter terminado. Seguramente, Godard não acreditava nos argumentos. E possivelmente tinha razão. Não era nada claro que qualquer fragmento da nossa vida fosse precisamente uma história fechada, com um argumento, com princípio e com fim.
Enrique Vila-Matas, Doutor Pasavento
parar não é viver
as minhas lágrimas não são para os teus olhos.
são para que elas não caiam dos teus nunca mais.
a desobediência civil
a minha origem é nobre demais para que eu seja propriedade de alguém. para que eu seja o segundo no comando ou um útil serviçal ou instrumento de qualquer Estado soberano deste mundo
thoreau
sábado, 26 de março de 2011
a varanda de julieta
uma vez, entrei em verona para não entrar
em veneza. Entre o vê de verona e o vê
de veneza optei por ver verona. Gostei da
coincidência das consoantes na janela
de julieta; e sei que em veneza não ouviria
o vento da vingança, nem provaria o veneno
de uma volúpia que só em verona se
desvenece com a vida. Não há canais em
verona, como em veneza; nem há janelas
em veneza, como em verona; mas julieta
espreita a rua, da janela que é sua, e se
ninguém diz a senha que só ela sabe, agita
o lenço molhado pelas lágrimas que as
nuvens bebem, levando-as de verona até
veneza, onde a chuva as deita nos canais.
nuno júdice
sexta-feira, 25 de março de 2011
ana/julieta
parede de zinco com quatro espelhos dentro
Desprendeste-te donde estiveste e é em mim que mais me acontece tu estares. Mas nem sempre. Quantos dias se passam sem tu apareceres. E às vezes penso é bom que assim seja, para eu aprender a estar só. Mas de outras vezes rompes-me pela vida dentro e eu quase sufoco da tua presença. Ouço-te dizer o meu nome e eu corro ao teu encontro e digo-te vai-te, vai-te embora. Por favor. E eu sinto-me logo tão infeliz. E digo-te não vás. Fica. Para sempre. Há em mim uma luta entre o desejo de que te esqueça e o de endoidecer contigo. Porque tu foste de um
mundo incorruptível onde o tempo não passa e é aí que tu moras no eterno de ti. Mas nem sempre consigo ver-te na emoção que me abala ao lembrar a tua imagem. Como nem sempre me emociona ouvir certas músicas ou olhar um quadro ou reler um poema. Ou olhar uma estrela, uma flor. Há em nós o dom perverso de só raramente ver o outro lado das coisas onde mora o seu mistério. Lembro-me assim de às vezes procurar na tua face a outra face que lá não estava e era a mais bela de ti...
vergílio ferreira, para sempre
problema de expressão 2
As pessoas não percebem nada do que é o libertino. O termo ficou, na linguagem vulgar, associado a coisas disparatadas, como sinónimo de devassidão. Ora libertino não é apenas um devasso. Não é apenas aquele tipo que gosta de ir para a cama com homens, com mulheres, com todos ao mesmo tempo... O libertino é um tipo livre, que está contra todas as tiranias. O Sade, por exemplo... aquilo que o Sade conta está quase tudo dentro da imaginação dele... Repara: o gajo esteve quarenta e tal anos prisioneiro em masmorras e hospícios, e à ordem de quatro regimes: a realeza absoluta, a realeza constitucional, a Revolução e o Império, o que mostra bem como o libertino é o maior inimigo de todos os sistemas e como estes o odeiam, o temem. Porque os sistemas são a ordem e o conforto, ao passo que o libertino é a aventura, é o descontrolo. O Sade está aí. O Sade está entre nós. Mais: o Sade está em todos, dentro de nós. Mas o libertino também é o ateu radical. É aquele que faz da sua vida amorosa um espectáculo, um espectáculo através das palavras, do discurso. Conheci muita gente devassa, mas libertinos muito poucos. Agora, aquela coisa da crueldade como fonte de prazer sexual aí já tenho as minhas resistências, já tenho as minhas repugnâncias. Pessoalmente, do ponto de vista do comportamento sexual, prefiro o Valmont, das Ligações Perigosas, do Laclos. Ou seja, o Sade é exemplar mas não é um bom exemplo.
luiz pacheco, aos 80
quinta-feira, 24 de março de 2011
só sou objectiva quando danço
quarta-feira, 23 de março de 2011
a anedota, e o governo vai cair, e a mentirosa sou eu...?
The words that maketh murder.»
what if i take my problem to the United Nations?» :) :)
esquecida
estranha-se. até se pode escolher não ligar. e fingir que o silêncio persiste.
inolvidável
a força que carrega o peso das letras.
em cheio no chão o único que cai parece hamlet.
lilás, a caveira na capa.
de focinho para baixo. a cova do empedrado quase lhe abafa a queda.
algo está podre no reino da dinamarca.
mas vê-se, baixa-se e apanha. na mão anos de memórias e o lugar, as moedas contadas que o trouxeram para casa naquele dia.
coisas que nos acompanham, coisas que ficam, coisas que não largamos nunca.
terça-feira, 22 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
rui caeiro
desilusões tuas
30/3
e agora para algo completamente diferente
ele dizia assim
o que for teu desejo, assim será a tua vontade
o que for tua vontade, assim serão os teus actos
o que forem os teus actos, assim será a tua vida."
[Brihadáranyaka Upanishad]
adiar
a menina da graça
a menina da graça somos nós.
sentadas sobre o mapa da vida, que desenha linhas improváveis e partidas tenebrosas.
a menina da graça é a que nunca pensámos ser. encontrar.
a que adia os dias por achar melhores encantos na muralha que cerca a cidade e protege da dureza do granito, da corrosão do tempo.
tenho a derradeira vontade de gritar a essas meninas da graça. nós. ao espelho.
dar-lhes a mão e seguir rumo ao início dos dias. sem olhar para trás.
elas porque não sabem nem podem adiar a distância.
o corpo desapareceu
liberdade, 220
foto: ricardo simões
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas,que esperam por nós
E outras frágeis,que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens,palavras que guardam
O seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras,surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
Palavras que nos sobem ilegíveis À boca
Palavras diamantes palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos connosco cordas de violinos
Nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes escrevem muito alto
Muito além da azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras, o nosso dever falar.
domingo, 20 de março de 2011
vermelho no branco=cinzento
Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
Herberto Helder
I was looking for an island
I was slipping under
I'll pull the devil down with me one way or another
I'm out of my mind; think you can wait?
I'm way off the line; think you can wait?
We've been running a sleepless run
Been away from the baby way too long
We've been holding a good night gone
We've been losing our exits one by one
I'm out of my mind; think you can wait?
I'm way off the line; think you can wait?
Did I?
(all I have is all)
Think you can wait?
Did I?
(all I have is all)
Think you can wait?
What I'm thinking is simple
I'll sell apples and ice water at the temple
I won't make trouble
I'll pull the devil down with me one way or another
We've been running a sleepless run
Been away from the baby way too long
We've been holding a good night gone
We've been losing our exits one by one
I'll try.
I'll try, but I couldn't be better.
(all I have is all)
I'll try, but I couldn't be better.
(all I have is all)
I'll try, but I couldn't be better.
(all I have is all)
the national
e por fora
sentirmo-nos em paz passa pela decisão.
de nada adianta citar todos os versículos da bíblia, bater no peito e afirmar conteúdos ou saber de cor os sutras de filosofias milenares perante a incapacidade de encontrar a vontade de reler os destinos que nos movem.
consegue-se viver em paz. é preciso puxar para dentro o querer. o sentir.
soltar apenas o assimilável, o dizível. o pronunciável. amar por dentro.
alcançar o sossego de um encolher de ombros no momento certo.
nem que seja só para dormir naquele sorriso.
sábado, 19 de março de 2011
perfect moon, nostalgia
quarta-feira, 16 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
sos
mas depois chegaste a mim e vinhas com pressa.
dizias que não havia tempo a perder porque os justos sempre esquecem.
com essa na manga, gravaste na pele o que há muito querias fazer.
a geração perde-se no ilusório do grito. vive-se a força que irradia e impele ao retorno à vida cheia.
não se quer arriscar.
não se quer arrombar as vitrinas e estilhaçar a ordem e os sossegos.
ainda bem que te encontrei e me perdi, disseste.
ainda bem que me perdi e te encontrei, respondi.
the word
The 'Other Half' is the word. The 'Other Half' is an organism. Word is an organism. The presence of the 'Other Half' is a separate organism attached to your nervous system on an air line of words can now be demonstrated experimentally. One of the most common 'hallucinations' of subject during sense withdrawal is the feeling of another body sprawled through the subject's body at an angle...yes quite an angle it is the 'Other Half' worked quite some years on a symbiotic basis. From symbiosis to parasitism is a short step. The word is now a virus. The flu virus may have once been a healthy lung cell. It is now a parasitic organism that invades and damages the central nervous system. Modern man has lost the option of silence. Try halting sub-vocal speech. Try to achieve even ten seconds of inner silence. You will encounter a resisting organism that forces you to talk. That organism is the word.
william s. burroughs, the ticket that exploded (1962)
o homem anárquico
O desejo A surpresa
Ou a maravilha
Não pela igual imagem
mas destroçando-a
que dizem a passagem do que será
se for o contacto imprevisível
do obscuro
inacessível corpo em outro corpo vivo
antónio ramos rosa
domingo, 13 de março de 2011
great expectations
Blessed is he who expects nothing, for he shall never be disappointed.
alexander pope, 1727
eloisa to abelard
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd;
Labour and rest, that equal periods keep;
"Obedient slumbers that can wake and weep;"
Desires compos'd, affections ever ev'n,
Tears that delight, and sighs that waft to Heav'n.
Grace shines around her with serenest beams,
And whisp'ring angels prompt her golden dreams.
alexander pope
para a minha mãe, que me deu a revolução
para o meu pai, que me levou com ele para a rua e colocou na minha voz os gritos que hoje senti
para a big sis, que acredita na revolução como uma carta aberta ao que somos
para a mãe piedade, que me agarrou na mão para nunca mais soltar
para a renata, que intuiu cá dentro o que nem eu soube encontrar
para os que vieram comigo hoje e sentiram como eu que há coisas muito mais importantes do que o nosso centro cósmico de sempre.
a mudança começa aí.
a verdade e a não-verdade o ser e o vazio
e por isso na sua celebração a metáfora expande-se
na liberdade de ser a ténue sabedoria
desse momento e só desse momento em que o arco cresce
Há então que procurar a chuva dessa nuvem
ou desdizê-Ia não para o nosso olhar
mas para um outro rosto de areia que cresce no vazio
e poderá ser de pedra ou de ouro ou só de uma penugem
O poema é o encontro destas duas faces
de nenhuma substância quando no vazio do céu
os anjos se diluem com as mãos despojadas»
António Ramos Rosa
As espirais do silêncio