quarta-feira, 3 de outubro de 2012

é a vergonha.

é a segunda noite que passo por eles no caminho de casa. raso a escadaria e chego-me mais perto para ver. sentir ao menos o que lhes vai na pele e no corpo que há duas noites por ali ficam. 

há um grupo de gente a que poucos dão ouvidos. mas eles ali estão. não chegam a duas dezenas.
perguntei se queriam um cobertor, ou água.
disseram que tinham «carros de apoio». os amigos, os pais, (o)as namorad(o)as.

são cidadãos com deficiência que protestam devido aos cortes nos apoios do Estado que já poucos ou nenhuns eram.
é a tristeza de ver como se tratam pessoas que realmente precisam neste país.
conversámos um pouco e agradeceram por ter passado por lá.
se ao menos todos fizessem o mesmo, a família não tinha de estar sempre por ali a cuidar do frio e da fome.
deixei-os ali em sossego, mas assegurei que voltava mais tarde. fosse preciso ou não, há coisas que não se perguntam.

por isso deixo-vos esta nota muito breve. levantem os rabos do sofázinho de subúrbio sonolento.
venham encontrá-los, sentir como eles e dar apoio com o que tiverem.
deixem-se de conversas bonitas e declarações acaloradas no virtual.
disso, ninguém se alimenta nem aquece.


e para finalizar, deixo-vos algo antigo, mas tão certeiro que até dói nos olhos.

«Este governo não cairá porque não é um edifício,
sairá com benzina porque é uma nódoa
»...

Eça de Queiroz

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