domingo, 29 de abril de 2012
sábado, 28 de abril de 2012
doutrina
ando tão feliz a lembrar-me daquele colchão, do sofá torto, do tapete azul.
ando tão feliz a pensar no letreiro pendurado no armário.
ando tão feliz a ouvir as vozes das pessoas que passavam por baixo da janela.
ando tão feliz por sentir a tua mão arrancar-me a cintura nos sonic youth.
ando tão feliz a saber que os deixo pensarem que algum dia hão-de conseguir apagar todo o mal que me fizeste.
ando tão feliz hoje, que consegui convencê-los que sim.
ando tão feliz.
o vago calafrio
(...) a conversa deslizou, não sei como, para a voluptuosidade na arte.
E então a americana bizarra logo protestou:
- Acho que não devem discutir o papel da voluptuosidade na arte porque, meus amigos, a voluptuosidade é uma arte - e, talvez, a mais bela de todas. Porém, até hoje, raros a cultivaram nesse espírito. Venham cá, digam-me: fremir em espasmos de aurora, em êxtases de chama, ruivos de ânsia - não será um prazer bem mais arrepiado, bem mais intenso do que o vago calafrio de beleza que nos pode proporcionar uma tela genial, um poema de bronze? Sem dúvida, acreditem-me. Entretanto o que é necessário é saber vibrar esses espasmos, saber provocá-los. E eis o que ninguém sabe; eis no que ninguém pensa. Assim, para todos, os prazeres dos sentidos são a luxúria, e se resumem em amplexos brutais, em beijos húmidos, em carícias repugnantes, viscosas. Ah! mas aquele que fosse um grande artista e que, para matéria-prima, tomasse a voluptuosidade, que obras irreais de admiráveis não altearia!… Tinha o fogo, a luz, o ar, a água, e os sons, as cores, os aromas, os narcóticos e as sedas - tantos sensualismos novos ainda não explorados… Como eu me orgulharia de ser esse artista!… E sonho uma grande festa no meu palácio encantado, em que os maravilhasse de volúpia… em que fizesse descer sobre vós os arrepios misteriosos das luzes, dos fogos multicolores - e que a vossa carne, então, sentisse enfim o fogo e a luz, os perfumes e os sons, penetrando-a a dimaná-los, a esvaí-los, a matá-los!… Pois nunca atentaram na estranha voluptuosidade do fogo, na perversidade da água, nos requintes viciosos da luz?.. Eu confesso-lhes que sinto uma verdadeira excitação sexual - mas de desejos espiritualizados de beleza - ao mergulhar as minhas pernas todas nuas na água de um regato, ao contemplar um braseiro incandescente, ao deixar o meu corpo iluminar-se de torrentes eléctricas, luminosas… Meus amigos, creiam-me, não passam de uns bárbaros, por mais requintados, por mais complicados e artistas que presumam aparentar! Depois da ceia, é o espectáculo - o meu Triunfo! Quis condensar nele as minhas ideias sobre a voluptuosidade-arte. Luzes, corpos, aromas, o fogo e a água - tudo se reunirá numa orgia de carne espiritualizada em ouro! Porém nada valeu em face da última visão:
Raiaram mais densas as luzes, mais agudas e penetrantes, caindo agora, em jorros, do alto da cúpula - e o pano rasgou-se sobre um vago tempo asiático… Ao som de uma música pesada, rouca, longínqua - ela surgiu, a mulher fulva…
E começou dançando…
Envolvia-a uma túnica branca, listada de amarelo. Cabelos soltos, loucamente. Jóias fantásticas nas mãos; e os pés descalços, constelados…
Ai, como exprimir os seus passos silenciosos, húmidos, frios de cristal; o marulhar da sua carne ondeando; o álcool dos seus lábios que, num requinte, ela dourara - toda a harmonia esvaecida nos seus gestos; todo o horizonte difuso que o seu rodopiar suscitava, nevoadamente…Entretanto, ao fundo, numa aura misteriosa, o fogo ateara-se…
Vício a vício a túnica lhe ia resvalando, até que, num êxtase abafado, soçobrou a seus pés… Ah! nesse momento, em face à maravilha que nos varou, ninguém pôde conter um grito de assombro…
Quimérico e nu, o seu corpo subtilizado, erguia-se litúrgico entre mil cintilações irreais. Como os lábios, os bicos dos seios e o sexo estavam dourados - num ouro pálido, doentio. E toda ela serpenteava em misticismo escarlate a querer-se dar ao fogo…Mas o fogo repelia-a…Então, numa última perversidade, de novo tomou os véus e se ocultou, deixando apenas nu o sexo áureo - terrível flor de carne a estrebuchar agonias magentas…
Vencedora, tudo foi lume sobre ela…
E, outra vez desvendada - esbraseada e feroz, saltava agora por entre labaredas, rasgando-as: emaranhando, possuindo, todo o fogo bêbado que a cingia.
Mas finalmente, saciada após estranhas epilepsias, num salto prodigioso, como um meteoro - ruivo meteoro - ela veio tombar no lago que mil lâmpadas ocultas esbatiam de azul cendrado.
Então foi apoteose:
Toda a água azul, ao recebê-la, se volveu vermelha de brasas, encapelada, ardida pela sua carne que o fogo penetrara… E numa ânsia de se extinguir, possessa, a fera nua mergulhou… Mas quanto mais se abismava, mais era lume ao seu redor…
… Até que por fim, num mistério, o fogo se apagou em ouro e, morto, o seu corpo flutuou heráldico sobre as águas douradas - tranquilas, mortas também…
a confissão de lúcio, mário de sá-carneiro
E então a americana bizarra logo protestou:
- Acho que não devem discutir o papel da voluptuosidade na arte porque, meus amigos, a voluptuosidade é uma arte - e, talvez, a mais bela de todas. Porém, até hoje, raros a cultivaram nesse espírito. Venham cá, digam-me: fremir em espasmos de aurora, em êxtases de chama, ruivos de ânsia - não será um prazer bem mais arrepiado, bem mais intenso do que o vago calafrio de beleza que nos pode proporcionar uma tela genial, um poema de bronze? Sem dúvida, acreditem-me. Entretanto o que é necessário é saber vibrar esses espasmos, saber provocá-los. E eis o que ninguém sabe; eis no que ninguém pensa. Assim, para todos, os prazeres dos sentidos são a luxúria, e se resumem em amplexos brutais, em beijos húmidos, em carícias repugnantes, viscosas. Ah! mas aquele que fosse um grande artista e que, para matéria-prima, tomasse a voluptuosidade, que obras irreais de admiráveis não altearia!… Tinha o fogo, a luz, o ar, a água, e os sons, as cores, os aromas, os narcóticos e as sedas - tantos sensualismos novos ainda não explorados… Como eu me orgulharia de ser esse artista!… E sonho uma grande festa no meu palácio encantado, em que os maravilhasse de volúpia… em que fizesse descer sobre vós os arrepios misteriosos das luzes, dos fogos multicolores - e que a vossa carne, então, sentisse enfim o fogo e a luz, os perfumes e os sons, penetrando-a a dimaná-los, a esvaí-los, a matá-los!… Pois nunca atentaram na estranha voluptuosidade do fogo, na perversidade da água, nos requintes viciosos da luz?.. Eu confesso-lhes que sinto uma verdadeira excitação sexual - mas de desejos espiritualizados de beleza - ao mergulhar as minhas pernas todas nuas na água de um regato, ao contemplar um braseiro incandescente, ao deixar o meu corpo iluminar-se de torrentes eléctricas, luminosas… Meus amigos, creiam-me, não passam de uns bárbaros, por mais requintados, por mais complicados e artistas que presumam aparentar! Depois da ceia, é o espectáculo - o meu Triunfo! Quis condensar nele as minhas ideias sobre a voluptuosidade-arte. Luzes, corpos, aromas, o fogo e a água - tudo se reunirá numa orgia de carne espiritualizada em ouro! Porém nada valeu em face da última visão:
Raiaram mais densas as luzes, mais agudas e penetrantes, caindo agora, em jorros, do alto da cúpula - e o pano rasgou-se sobre um vago tempo asiático… Ao som de uma música pesada, rouca, longínqua - ela surgiu, a mulher fulva…
E começou dançando…
Envolvia-a uma túnica branca, listada de amarelo. Cabelos soltos, loucamente. Jóias fantásticas nas mãos; e os pés descalços, constelados…
Ai, como exprimir os seus passos silenciosos, húmidos, frios de cristal; o marulhar da sua carne ondeando; o álcool dos seus lábios que, num requinte, ela dourara - toda a harmonia esvaecida nos seus gestos; todo o horizonte difuso que o seu rodopiar suscitava, nevoadamente…Entretanto, ao fundo, numa aura misteriosa, o fogo ateara-se…
Vício a vício a túnica lhe ia resvalando, até que, num êxtase abafado, soçobrou a seus pés… Ah! nesse momento, em face à maravilha que nos varou, ninguém pôde conter um grito de assombro…
Quimérico e nu, o seu corpo subtilizado, erguia-se litúrgico entre mil cintilações irreais. Como os lábios, os bicos dos seios e o sexo estavam dourados - num ouro pálido, doentio. E toda ela serpenteava em misticismo escarlate a querer-se dar ao fogo…Mas o fogo repelia-a…Então, numa última perversidade, de novo tomou os véus e se ocultou, deixando apenas nu o sexo áureo - terrível flor de carne a estrebuchar agonias magentas…
Vencedora, tudo foi lume sobre ela…
E, outra vez desvendada - esbraseada e feroz, saltava agora por entre labaredas, rasgando-as: emaranhando, possuindo, todo o fogo bêbado que a cingia.
Mas finalmente, saciada após estranhas epilepsias, num salto prodigioso, como um meteoro - ruivo meteoro - ela veio tombar no lago que mil lâmpadas ocultas esbatiam de azul cendrado.
Então foi apoteose:
Toda a água azul, ao recebê-la, se volveu vermelha de brasas, encapelada, ardida pela sua carne que o fogo penetrara… E numa ânsia de se extinguir, possessa, a fera nua mergulhou… Mas quanto mais se abismava, mais era lume ao seu redor…
… Até que por fim, num mistério, o fogo se apagou em ouro e, morto, o seu corpo flutuou heráldico sobre as águas douradas - tranquilas, mortas também…
a confissão de lúcio, mário de sá-carneiro
sexta-feira, 27 de abril de 2012
angel vs. devil
this is probably the only picture you took of me in brooklyn.
it was my last night in nyc.
i have no idea why you kept it for so long and only tonight you decided to send it.
i had never seen it before.
the memories are flowing. that bag had a gift for my sister. i carried it all night and you kept asking if i should just shove it somewhere, so that i could walk around more confortable.
we strolled through record stores. you took us to the diner.
i eventually had to catch the grey line to manhattan and that silence overwhelmed me.
it is still here. it endures.
from this day on, no more.
mais uma volta
dos limites
so familiar and overwhelming
We barely remember who or what came before this precious moment,
We are choosing to be here right now. Hold on, stay inside
This holy reality, this holy experience.
Choosing to be here in
This body. This body holding me. Be my reminder here that I am not alone in
This body, this body holding me, feeling eternal
All this pain is an illusion.
Alive, I
In this holy reality, in this holy experience. Choosing to be here in
This body. This body holding me. Be my reminder here that I am not alone in
This body, this body holding me, feeling eternal
All this pain is an illusion.
Twirling round with this familiar parable.
Spinning, weaving round each new experience.
Recognize this as a holy gift and celebrate this chance to be alive and breathing.
This body holding me reminds me of my own mortality.
Embrace this moment. Remember. we are eternal.
all this pain is an illusion.
We are choosing to be here right now. Hold on, stay inside
This holy reality, this holy experience.
Choosing to be here in
This body. This body holding me. Be my reminder here that I am not alone in
This body, this body holding me, feeling eternal
All this pain is an illusion.
Alive, I
In this holy reality, in this holy experience. Choosing to be here in
This body. This body holding me. Be my reminder here that I am not alone in
This body, this body holding me, feeling eternal
All this pain is an illusion.
Twirling round with this familiar parable.
Spinning, weaving round each new experience.
Recognize this as a holy gift and celebrate this chance to be alive and breathing.
This body holding me reminds me of my own mortality.
Embrace this moment. Remember. we are eternal.
all this pain is an illusion.
tool, parabola
da vice
«À cobarde, cem homens armados até aos dentes acompanhados de bombeiros na ignorância para expulsar vinte pessoas com narizes de palhaço, todos abraçados uns aos outros num quadrado.
O Es.Col.A. só cometeu um crime: as palhaçadas são uma actividade exclusiva dos políticos.»
rebeca bonjour
O Es.Col.A. só cometeu um crime: as palhaçadas são uma actividade exclusiva dos políticos.»
rebeca bonjour
se te esqueceres do essencial, esqueces-te de quem és.
«Porquê lutar pela Es.Col.A do Alto da Fontinha? não tenho simpatia por nenhum partido político, sou, como diria o Agostinho da Silva, um conservador da sardinha. não tenho rastas nem brinco nem toco percursão. não me considero exemplo de coisíssima nenhuma. não tirava nenhum proveito das actividades ali praticadas.nunca lá entrei. não vivo no bairro. tenho três filhos e mais com que me preocupar. e no entanto a vida vai-me correndo. posso muito bem fazer de conta que não é nada comigo…apenas percebi que não posso pedir aos meus filhos que sejam pessoas decentes e bem formadas e lhes dizer que vi com os meus olhos, na cidade onde nasci e vivemos, um político com poder legitimado e uma polícia com poder armado a expulsar barbaramente umas criaturas cujo único crime que cometeram foi ocupar uma escola abandonada há cinco anos, pintá-la, arranjá-la e aí organizarem actividades escolares e culturais para a comunidade do bairro, sem pedirem um tostão a ninguém e afirmando desde a primeira hora que sairiam assim que os moradores quisessem. Vi e ouvi os moradores a pedirem que ficassem. E uma vez mais vi a polícia de choque a agredir essas pessoas, a destruir e atirar pela janela os livros e todo o material que servia de apoio às suas actividades, a emparedar o espaço para o inutilizar. e então decidi que estaria ao lado dessas pessoas, até ao limite das minhas forças, para poder pedir aos meus filhos que sejam gente decente…como se diz nesta terra: quem não se sente não é filho de boa gente!»
daniel martins. só um homem que lá esteve, como nós.
Till the gossamer thread you fling... - for you
A NOISELESS, patient spider,
I mark’d, where, on a little promontory, it stood, isolated;
Mark’d how, to explore the vacant, vast surrounding,
It launch’d forth filament, filament, filament, out of itself;
Ever unreeling them—ever tirelessly speeding them.
And you, O my Soul, where you stand,
Surrounded, surrounded, in measureless oceans of space,
Ceaselessly musing, venturing, throwing,—seeking the spheres, to connect them;
Till the bridge you will need, be form’d—till the ductile anchor hold;
Till the gossamer thread you fling, catch somewhere, O my Soul.
-Walt Whitman
celine
You know, maybe we're ... we're only good at brief encounters, walking around in European cities in warm climate.
- Before Sunset
- Before Sunset
quinta-feira, 26 de abril de 2012
o ricardo disse que se voa nisto e não se volta.
mas volta-se sim. com tempo.
muito melhor e mais alto.
recolher a casa.
e rir. muito.
perante a necessidade absurda de atenção do ser humano.
rir ainda mais quando olhamos em volta e encontramos olhos que vêem essa necessidade e riem connosco.
essa compreensão férrea, que não necessita de palavras, resiste a tudo.
todos os dias.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
«Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos.»
«Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!»
capitão salgueiro maia
já era abril outra vez.
capitão salgueiro maia
já era abril outra vez.
Subscrever:
Mensagens (Atom)