quinta-feira, 10 de março de 2011

quase na pele



“Escuta: eu te deixo ser. Deixa-me ser então.” “Vou te fazer uma confissão: estou um pouco assustada. É que não sei aonde me levará esta minha liberdade. Não é arbitrária nem libertina. Mas estou solta.” “Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.

Vou agora parar um pouco para me aprofundar mais.
Depois eu volto.
Voltei. Fui existindo.”


“Depois de certo tempo cada um é responsável pela cara que tem. Vou olhar agora a minha. É um rosto nu. E quando penso que inexiste um igual ao meu no mundo, fico de susto alegre.”
“Que o Deus me ajude: estou perdida. Preciso terrivelmente de você. Nós temos que ser dois. Para que o trigo fique alto. Estou tão grave que vou parar.” “Mas eu me alimentei com a minha própria placenta. E não vou roer unhas porque isto é um tranquilo adaggio.” “Mas por que esse mal-estar? É porque não estou vivendo do único modo que existe para cada um de se viver e nem sei qual é. (…) Eu me aprofundei mas não acredito em mim porque meu pensamento é inventado.” “Para te escrever eu antes me perfumo toda.” “Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha.” “O jasmim é dos namorados. Dá vontade de pôr reticências agora.” “Eu, que corro nervosa e só a realidade me delimita.”

“Mas como fazer se não te enterneces com meus defeitos, enquanto eu amei os teus.”


“Diga-me por favor que horas são para eu saber que estou vivendo nesta hora.”
“Recuso-me a ficar triste. Sejamos alegres. Quem não tiver medo de ficar alegre e experimentar só uma vez sequer a alegria doida e profunda terá o melhor da nossa verdade.” “Aliás não quero morrer. Recuso-me contra “Deus”. Vamos não morrer como desafio?” “Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação. Simplesmente eu sou eu e você é você. É vasto, vai durar.”

queimando a pele com água viva, clarice lispector

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