terça-feira, 27 de novembro de 2012

fui ao almoço de aniversário do patriarca.


e vê-lo ali rodeado de amigos, os cabelos brancos, as experiências de vidas inteiras.
cheguei com os bolsos cheios de gargalhadas e recordações para trocar.

do teu inverno

que nos aquece,
do amor inexplicável de quem faz 300 quilómetros e chega de madrugada apenas para nos adormecer.
e fazer bolo de bolacha. o da nossa infância. o que escalda os dedos a transbordar de afecto. 
de cuidado.

escolhemos. a pantufa. a leitura. o estômago.
escolhemos tudo.



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

a carta da Fiona Apple aos fãs, após cancelar a tourné para ficar em casa com o ser mais importante da sua vida. nós somos isto.


It’s 6pm on Friday, and I’m writing to a few thousand friends I have not met yet. I’m writing to ask them to change our plans and meet a little while later.
Here’s the thing.
I have a dog, Janet, and she’s been ill for about 2 years now, as a tumor has been idling in her chest, growing ever so slowly. She’s almost 14 years old now. I got her when she was 4 months old. I was 21 then — an adult, officially — and she was my kid.
She is a pitbull, and was found in Echo Park, with a rope around her neck, and bites all over her ears and face.
She was the one the dogfighters use to puff up the confidence of the contenders.
She’s almost 14 and I’ve never seen her start a fight, or bite, or even growl, so I can understand why they chose her for that awful role. She’s a pacifist.
Janet has been the most consistent relationship of my adult life, and that is just a fact. We’ve lived in numerous houses, and joined a few makeshift families, but it’s always really been just the two of us.
She slept in bed with me, her head on the pillow, and she accepted my hysterical, tearful face into her chest, with her paws around me, every time I was heartbroken, or spirit-broken, or just lost, and as years went by, she let me take the role of her child, as I fell asleep, with her chin resting above my head.
She was under the piano when I wrote songs, barked any time I tried to record anything, and she was in the studio with me, all the time we recorded the last album.
The last time I came back from tour, she was spry as ever, and she’s used to me being gone for a few weeks, every 6 or 7 years.
She has Addison’s Disease, which makes it more dangerous for her to travel, since she needs regular injections of Cortisol, because she reacts to stress and excitement without the physiological tools which keep most of us from literally panicking to death.
Despite all this, she’s effortlessly joyful & playful, and only stopped acting like a puppy about 3 years ago. She is my best friend, and my mother, and my daughter, my benefactor, and she’s the one who taught me what love is.
I can’t come to South America. Not now. When I got back from the last leg of the US tour, there was a big, big difference.
She doesn’t even want to go for walks anymore.
I know that she’s not sad about aging or dying. Animals have a survival instinct, but a sense of mortality and vanity, they do not. That’s why they are so much more present than people.
But I know she is coming close to the time where she will stop being a dog, and start instead to be part of everything. She’ll be in the wind, and in the soil, and the snow, and in me, wherever I go.
I just can’t leave her now, please understand. If I go away again, I’m afraid she’ll die and I won’t have the honor of singing her to sleep, of escorting her out.
Sometimes it takes me 20 minutes just to decide what socks to wear to bed.
But this decision is instant.
These are the choices we make, which define us. I will not be the woman who puts her career ahead of love & friendship.
I am the woman who stays home, baking Tilapia for my dearest, oldest friend. And helps her be comfortable & comforted & safe & important.
Many of us these days, we dread the death of a loved one. It is the ugly truth of Life that keeps us feeling terrified & alone. I wish we could also appreciate the time that lies right beside the end of time. I know that I will feel the most overwhelming knowledge of her, and of her life and of my love for her, in the last moments.
I need to do my damnedest, to be there for that.
Because it will be the most beautiful, the most intense, the most enriching experience of life I’ve ever known.
When she dies.
So I am staying home, and I am listening to her snore and wheeze, and I am revelling in the swampiest, most awful breath that ever emanated from an angel. And I’m asking for your blessing.
I’ll be seeing you.
Love,
Fiona

Maggie, onde quer que estejas, nós somos isto<3
porque eu, de ti, ainda não consigo dizer nada. apenas sentir e ficar. 
quieta. imóvel.
à espera que apareças como de costume. como sempre encostada ao meu pescoço.

limão.


E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. 
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre. 


Miguel Sousa Tavares

arrepiar o coração.


peregrinos de si mesmos, voltam inevitavelmente ao mesmo lugar.

Fotografia: Fernando Dinis MusicPhotography para a TransVerso

que a noite ainda agora começou.


criar condições para um encostar perfeito no sofá.

 

Ser cidade complica a vida de qualquer menina com ares de importância. Cumplicidades que nos medem riscos e vielas, becos e encruzilhadas. Nunca nos deixam em paz, por mais noite que seja. Abandonam-nos aos automóveis, às torres e às urbanizações. Abrem-nos o cérebro com imitações de casas de bonecas que sabemos estarem prenhes de boas intenções acriançadas. Haviam de nos ensinar à nascença a praticar a claridade por vias sinuosas. Um qualquer lugar em que se ensinasse a acolher tantas almas perdidas e encontradas. Dentro dele apenas impetuosidade e omnipresença de corpo e espírito. No dia em que me cobrirem o corpo com o manto verde que tanto desejo, abrirei os braços ao mundo. Aportarei navios cheios de raças e bocas sedentas de sardinhas e vinho. Á vista desarmada, prossigo na espera. Como sempre Ulisses, desde que me sentiu aqui aninhada junto ao mar. Olissipo. Cidade da perdição sentida. Abrigo tantos e não há quem me adormeça a pele. Sigo cantada por recantos escuros e falada pelas esquinas de cheiro acre. Esqueceram-se de me fechar ao sair. Sigo escancarada na luz que me ressalta dos olhos ao acordar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

do saber.

You're not to be so blind with patriotism that you can't face reality. Wrong is wrong, no matter who does it or says it. - Malcolm X
TransVerso

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

porque não se deve contrariar ídolos. parte 5.

The State never intentionally confronts a man’s sense, intellectual or moral, but only his body, his senses. It is not armed with superior wit or honesty, but with superior physical strength. I was not born to be forced. I will breathe after my own fashion. Let us see who is the strongest.

- Henry David Thoreau, On Civil Disobedience


domingo, 18 de novembro de 2012

se não fosse aquela poça de água ontem na praça de são paulo.

isto até que tinha corrido bem melhor.






café na fábrica.


































fomos só tomar um brunch e levámos com isto pelos olhos dentro*

a oliveira

de saramago, hoje estava coberta de rosas brancas.*

jardim das amoreiras.

é uma tentação atribuir aos outros o poder de tirarem o melhor ou o pior de nós, como se fossemos um instrumento musical nas mãos de um músico, que tanto pode revelar o talento para extrair a nossa mais harmoniosa melodia, como apenas obter notas desafinadas e ruidosas. 

os outros justificam o facto de sermos simultaneamente um Stradivarius e um violino de plástico. 

foto: o.a.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

daquele software que anda a controlar as vidas de muita gente

Acabei de ser alertada por uma amiga que anda a receber pedidos de amizade suportamente meus pelo Facebook de forma sistemática. 
Dizem por aí que existem ultimamente perfis falsos a fazer este tipo de coisa. 

Não sou dada a alarmismos mas fiquem sabendo que NÃO peço amizades por ali a ninguém, muito menos em catadupa e com contornos de psicopata :D 
Apenas existe gente que ao longo da noite dos tempos, adora fazer-se passar por mim. 
Se ao menos soubessem a trabalheira que dá, ocupavam-se a ser mais úteis à sociedade.
Ponham-se alerta também.

Beijinhos e obrigada *
(em jeito de comunicado parlamentar, que anda muito na moda e tal)

porque não se deve contrariar ídolos. parte 4.

Vale a pena atravessar meio mundo para ir procurar o outro, mesmo que seja para perceber que o outro não está lá porque atravessou meio mundo para nos vir procurar aqui.

 josé luís peixoto, n'A Visão















foto: genoveva abreu

porque não se deve contrariar ídolos. parte 3.


Dia do Desassossego 

 “Escrevo para desassossegar, não quero leitores conformados, passivos, resignados”, 
disse José Saramago pelos cantos do mundo e, pela última vez, na apresentação de Caim, para muitos mais do que um romance, um grito para romper com a indiferença. Nunca a sociedade precisou tanto de seres humanos desassossegados, capazes de mostrar coletivamente a inquietação e, a partir dela, elaborar alternativas que nos devolvam a racionalidade. 

O Dia do Desassossego é uma chamada de atenção. Somos seres pensantes e queremos viver enquanto tal. Não somos massa, nem um número, nem uma estatística, e muito menos um rebanho dirigido. Somos homens e mulheres capazes das maiores proezas, incluindo a de sorrir em tempos sombrios, porque decidimos que ninguém nos gela o sangue nem nos corta a respiração. 

 “Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo”, escreveu Ricardo Reis-Fernando Pessoa. E José Saramago mostrou-lhe esse espetáculo no ano da sua morte porque sempre soube que contemplar é um passo necessário, mas o segundo, tão urgente hoje como em 1936, é intervir, antes que intervenham sobre nós. Como pessoas, como culturas, como países. Neste Dia do Desassossego, quando José Saramago faria 90 anos, contemplemos o espetáculo do mundo pela sua mão. 

Caminhemos com O Ano da Morte de Ricardo Reis pelas ruas de Lisboa e, em cada esquina descrita, paremos para pensar, de cabeça levantada. Somos cidadãos desassossegados, gente que pensa e tem coração para sentir a força da beleza, da bondade e dos argumentos. Saiamos à rua neste 16 de novembro, desassossegados mas não vencidos, com as nossas capacidades despertas, a nossa sensibilidade afinada, seres de palavras, de memória e de gratidão. O desassossego será uma forma de romper todos os cercos.

Fundação José Saramago

 aos grandes 90 que hoje seriam.

remediado está.

a dra. da farmácia camões, ao passar-me as pastilhas para a garganta e rindo do sussurro quando lhe disse ao que vinha: "hoje vai dar aulas por sms" :))))))) só no chiado :D

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

da indignação

o carro ficou desde ontem na Travessa da Arrochela e, não sei bem como, escapou ileso. As pessoas não tiveram a mesma sorte.

pela primeira vez desde o início, a 15 de setembro, havia sangue nos passeios da minha rua.

isto impede-nos a todos de olhar para o essencial e voltarmos ao básico.
isto recupera todas as gritantes necessidades básicas de qualquer ser humano.
recolho-me e olho para dentro para perceber o que fazer a seguir. abro a porta e deixo-os entrar comigo?
fazemos o quê?

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

roupagens.



Meus amigos, amo-vos mais de Inverno do que no Verão; 
zombo agora melhor e mais animosamente dos meus inimigos, desde que tenho o Inverno em casa. (...) Arrastar-me? Eu? 
Nunca na minha vida me arrastei ante os poderosos. E se alguma vez menti, foi por amor. 
Por isso fico satisfeito até na minha cama de Inverno. Um leito humilde aquece-me mais do que um leito faustoso, porque eu sou zeloso da minha pobreza. E é no inverno que ela me é fiel. 

Nietzsche, Assim falava Zaratustra

Fotografia: Fernando Dinis Music/Photography

para a TransVerso

obrigada. obrigada. obrigada.

Pújá pode ter vários significados. Oferenda, honra ou retribuição de energia ou de força interior, são as formas pelas quais nos referimos ao pújá na estirpe Dakshinacharatantrika-Niríshwarasámkhya Yôga. Mas o termo pode significar também adorar, prestar culto, venerar, honrar, reverenciar.

DeRose - Tratado de Yôga








terça-feira, 13 de novembro de 2012

lembrete antes do mexefest. queriam o são jorge só para corridas 100 metros barreiras entre salas, não? :)

   antestreia exclusiva em Portugal de On The Road, adaptação há muito esperada do livro de Jack Kerouac (1922-1969), que conta no elenco com Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Sam Riley ou Kristen Stewart, é um dos destaques do Festival LER 25
Anos/25 Filmes. Seis dias (de 4 a 9 de dezembro) de cinema e literatura, de portas bem abertas no Cinema São Jorge, em coprodução com a EGEAC e a Câmara Municipal de Lisboa. Ao filme realizado por Walter Salles juntam-se uma seleção de Pedro Mexia (24 filmes, de Matar ou Não Matar, de Nicholas Ray, a Tess, de Roman Polanski, passando por Vidas em Fúria, de Stephen Frears, ou A Corte do Norte, de João Botelho), a entrevista de Carlos Vaz Marques a António Lobo Antunes (ao vivo), a conferência de Gonçalo M. Tavares, os concertos das bandas dos escritores Afonso Cruz (The Soaked Lamb) e Jacinto Lucas Pires (Os Quais), bem como o espetáculo de David Santos (Noiserv), autor de alguns dos temas musicais de José & Pilar – três concertos em parceria com o Festival Vodafone Mexefest;a emissão em direto de «Prova Oral», programa de rádio de Fernando Alvim, e mais debates, tertúlias, exposições, contadores de histórias e uma feira do livro.

na Revista Ler

porque não se deve contrariar ídolos. parte 2.

Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pôr acima de tudo o que é modelar e conter. Pela origem e pelo significado não posso deixar de a ligar às fortes resoluções e à coragem civil. E um contínuo querer e uma contínua vigilância, uma batalha perpétua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nítidas visões e as almas destemidas.
Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal, numa falta de coragem para o praticar; e, na verdade, não posso ter grande respeito pelas amibas que se sobrevivem.Só os sacristães são levados, por índole e ofício, a venerar todos os santos, sem pôr em mais alto lugar os que encheram sua vida de esquinas e no dobrar de cada uma sofreram agonias e suaram de angústia; mas, para nós, foram mais longe os que mais se feriram nos espinhos de uma remissa natureza; se a venceram merecem estar no céu; se não venceram, o próprio esforço lho devia merecer; no entanto já o inferno é uma forma de glória; para os outros seria bom que se criasse um novo recinto de imortalidade: e só o vejo estabelecido no lodo espapaçado de um fundo tranquilo, sem pregas de correntes nem restos de naufrágios; exactamente um cemitério de medusas.
Para o que é bom por ter nascido bom e a única virtude consistiria em ser mau; aqui se mostrariam originalidade e coragem, mérito, portanto; porque ser mau por ter nascido mau só lhe deveria dar, como aos do lado contrário, o direito ao eterno silêncio. Por aqui se compreende que as vidas dos Sorel tenham sempre ressonância nas almas Stendhal; e também a sensibilidade, a delicadeza, todo o fundo de boas qualidades de certos grandes criminosos. Sei bem os perigos que tal doutrina pode ter transportada ao social e sei também a maneira de pôr de lado a objecção, alargando o conceito de virtude, dando-o como o desejo de superar e não como o desejo de combater; mas de propósito fiquei no que a virtude tem de luta entre a natureza e a vontade.

Agostinho da Silva, Considerações

hoje. tentar não tropeçar na linha do eléctrico e convidá-lo para o cafézinho after-hours na Praça das Flores.


Willem Dafoe lê poemas de Alfred Brendel às 19h no Museu de História Natural e da Ciência. O bilhete custa 2€. 

«Os poemas de Alfred Brendel são uma delícia. A sua voz é maravilhosamente excêntrica, gracejadora, maliciosa, irrequieta – os mesmos dedos brilhantes fazem um novo som.»
Harold Pinter, dramaturgo, prémio Nobel da Literatura


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

porque não se deve contrariar ídolos. parte 1.




Se se diz a uma mulher que certo homem é inteligente, ela escreve mentalmente um zero. Se se diz que é culto, ela escreve outro zero. Se acrescentarmos que é belo, amável, com boa reputação social e tudo o mais que se quiser, ela acrescenta outros zeros. Se finalmente se confidenciar que ele é bom na cama, ela escreve um 1 antes dos zeros todos.

(Tenho ideia de ter lido qualquer coisa de semelhante a esta conta não sei onde. Mas como não sei onde, façamos de conta que a conta é minha. Porque de qualquer modo, é exacta.)


Vergílio Ferreira, Conta-Corrente 2

o pacheco pereira

acaba de dizer laissezfaire, laissezpasser (tudo junto e a reboque e sem respirar nem pausa para engolir a saliva).
juro que gostava de conseguir transcrever o sotaque com que o regurgitou, mas confesso que nem tentando muito com muita dedicação e toda a vontade de gozar com esta gente que bota discurso e compete pela taça do mais idiota de cabelo grisalho e barrigudo sem tacho político há demasiado tempo na tv portuguesa.

o gajo esqueceu-se do aller... tristeza pá. tristeza.

«you can ask me whatever you want, because you are a journalist.»

ai. o embaixador dos estados unidos em portugal reúne as hostes no hard rock café para contar os votos e... charaaaannnn... não fala uma palavra de português. welcome to por tu gal.

encosta-te a mim.



































equilibristas *