quarta-feira, 16 de maio de 2012

andar aos poucos. sentar devagar.


foto: sayiuki

Quantas teorias tenho pensado sobre tudo; sobre quantas ciências tenho meditado até chegar a novidades. Antigamente ciência, natureza, interessavam-me por mim pensador e trabalhador-teorista. Poderia ter feito um nome grandemente vazio, e retumbantemente estéril. Veio-me cedo a consciência da futilidade de tudo. Vim para aqui. Continuei a ler, mas não escrevo, nem outra coisa. Destruí o que escrevera e anotara. Pensava, teorizava e sofria. Hoje passei além. O pensamento tornou-se-me a alma. Sentimentalizou-se, dispersou-se por mim, perdendo o seu ser de pensamento e lógica. Hoje já não penso; sinto a reflexão. Penso com o sentimento. Raciocino-me.

Fernando Pessoa, O Mendigo e Outros Contos

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