terça-feira, 3 de julho de 2012

águas furtadas.


Ao entrar na floresta, o guiador a balançar nas minhas mãos, afastava-me de tudo o que era a minha casa, os meus amigos, os lugares onde pensava que me podia sentir seguro. A tarde tornara-se fresca no meu corpo sob as roupas: a camisola branca, as calças. Conhecia menos o meu corpo sob as roupas do que conhecia as roupas. Conhecia as roupas do tempo que passaram guardadas em gavetas, conhecia-as de quando as dobrei e guardei em gavetas, quando as escolhi e comprei, e , nesse dia, quando as escolhi por querer vesti-las. 

A palma da sua mão tinha linhas que eram o mapa de uma vida inteira, uma vida com todos os seus enganos, com todos os seus erros, com todas as suas tentativas. Os seus olhos de pedra. Senti os ossos da sua mão a envolverem os meus dedos. Não me puxou, mas eu aproximei o meu corpo do seu.

josé luís peixoto, cal

Sem comentários:

Enviar um comentário