quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

do que é realmente importante



quando a maggie desapareceu por um dia, não sabíamos se estava viva ou morta, nem se a tinham levado, nem para onde, nem sequer a direcção que seguira, a que horas, onde, enfim, o terror da dúvida que nos deixou sem norte, até que alguém disse, calma, vamos começar por avisar toda a gente online. vamos começar a avisar toda a gente na rua. mas a noite caía e os becos escuros onde andámos, as lojas onde pedíamos para deixar cartazes, tudo fechava e o frio do norte, o frio que ela nunca soube o que era, nunca dormira na rua, não sabia atravessar a estrada, nem sequer devia saber onde ficava a casa. depois de a polícia me ter obrigado a catalogar o ocorrido em «extravio de bens» e que não valia a pena explicar que ela era uma pessoa, a minha família. o pânico. saber que trocaria tudo para a ter de volta em casa, quentinha e segura.
só me lembro de pensar no tanto que perdi e agora não podia perder a única coisa que ainda me dava sentido, que me fazia companhia, que sempre estivera comigo.
à noite tivemos notícias dela. asseguraram-me que não estava ao frio e que nem sequer tinha fome. que tinha companhia. e que esperava por mim, por nós todos.

e tu estavas comigo. perguntaste-me se queria comer. o que queria fazer... o que me apetecia.

-água. só quero água.

eu continuava sem ela. mas levaste-me. deste-me a mão. contaste-me de ti.
pedimos algo que nos aquecesse.
saímos juntos, demos uma volta à anémona e vimos o homem das castanhas.
- queres??? - perguntaste...
- não... sim!!!

comemos castanhas a ver o mar. as minhas primeiras do ano.
perdi a conta às vezes que me fizeste rir.
e por isso te digo sempre. as coisas vão e vêm. desaparecem quase todas.
ela. tu.
ficam.

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