sexta-feira, 2 de setembro de 2011

fui



é que não é a parte em que o cão fala com ele e sabe mesmo como dizer o que vai dizer, nem o pai que lhe morre em casa, e que até nem vemos os bombeiros a reanimar no chão, nem as roupas do pai que tem de dar e despachar, nem a senilidade que chega e acaba com tudo, a negação, a vontade de fugir, largar tudo, nem a namorada que parte para nova iorque, logo para ali, mas aparentemente volta e tudo vai acabar bem, nem as ruas nem as cores, e nem sequer o fôlego que é preciso para sair daquela sala e nem tu nem eu desabarmos, aguentámo-nos a valer, eu na barba ruiva dele, tu na certeza de que tinhas medo de passar vergonha ao lado de pessoas que não conheces. eu, por mim, deixei-me ir, caguei, foi ali mesmo que repassei as dores da perda, de sermos incapazes de ultrapassar a ausência de quem nos deu ao mundo e de insistirmos em perdermos todos, da vida que desaparece num ápice, de poder apenas sentar e pensar uma semana depois para o mundo não nos cair dentro da alma naquele instante. porra, que tu já sabias que ia ser assim e foste comigo assim mesmo. maior teimosia, portanto. e a tristeza, aquela profunda tristeza que não o larga, de quem sabe que há merdas assim que nos perseguem e aguentamos e vivemos, e reabrimos.
sempre.

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