segunda-feira, 7 de maio de 2012

atirar cocteau ao domingo de manhã contra a parede



é sinuoso e acabamos por aproveitar as linhas com que ele escreve sobre roussel ou proust para nos lembrarmos de que tudo acaba por estar já feito e mais que inventado. pergunto-me o porquê de encenarmos sempre as mesmas imagens, ouvirmos ou reproduzirmos o que tantos já fizeram e ainda acharmos que somos originais. existe nesta criatividade de hoje em dia uma colagem demasiado cega ao que se encontra demasiado visto. e se os surrealistas chegaram lá também com inspiração de tantos que genialmente lhes mostraram o caminho, isto desta modernidade de onde partimos tem-me mostrado uma certa pobreza de valores. como se os meios tão super produzidos de hoje nos remetessem cada vez mais para uma experiência individual de conceitos que apenas o autor e a sua prole de seguidores entende.
já não se arrepiam muitas peles. é cada vez mais raro o ir para casa com um nome criativo contemporâneo no ouvido.
é a ditadura da instalação e o poder do geniozinho torturado que vai exorcizando todos os traumas não através da arte, mas da suprema arrogância. por isso a ala de roussel a abarrotar de visitantes. por isso as instalações frias e desprovidas de conteúdo às moscas. é o povo que não entende ou é o «artista» que não comunica?
existem refúgios que merecem mais calor humano. mais claridade. mais madeira no chão.

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