Fleur du Jour |
Ballarat International Foto Biennale - Melbourne, Australia |
Opening 8th of August 2011 |
Oh the fragility of beauty, It is the beauty of age that fires our spirit - Karalla - |
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
cynthia
no éter
de encontrão, ouvi saltar-lhe da boca que bebia cada vez mais café.
que o café lhe cortava a fome.
que o tempo era de não comer. que tinha de não comer.
que era preciso cortar na refeição e aumentar o café.
e hoje a cena de polícia à porta de casa.
a criança no colo, nos braços e a branca no bolso.
gritavam.
a realidade fez-me sentir a sorte de não beber tanto café assim.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
casa das histórias
"Nunca mais tirarei os olhos de ti. Vou olhar para ti ininterruptamente.
E, depois de uma pausa: - Tenho medo quando o meu olho pisca. Medo de que, durante esse segundo em que o meu olhar se apaga, se introduza no teu lugar uma serpente, uma ratazana, outro homem.
Ele tentava erguer-se um pouco para lhe tocar com os lábios.
Ela abanava a cabeça: - Não, só quero olhar para ti.
E depois: - Vou deixar o candeeiro aceso toda a noite. Todas as noites."
milan kundera, a identidade
fi-nal-men-te, fazer repousar ao ponto de te deixar ler-me. a história.
curta metragem
ainda há pessoas que nos enviam mensagens a dizer que estão 5 minutos atrasadas.
pessoas que nos arrancam da sombra e nos levam para o sol mais alto.
ainda há pessoas que movem montanhas para nos fazerem sentir felizes.
porque é isso que as faz felizes também.
essas pessoas dizem-nos que somos bonitas, que o paralelo entre isto e o resto não existe.
ainda há pessoas que nos colocam gelados nas mãos e nos mostram que o melhor, até pode ser a baunilha.
ainda há pessoas que embarcam nos nossos sonhos. e nos deixam escrever, dizer, gritar o que nos apetece.
ainda há gestos maiores do que palavras. que essas, desacreditam.
a estupidez humana
e se ache o máximo. e leve os outros com eles, a definhar.
a crer na ilusão da mentira. da suposta criatividade, roubada a sinapses espasmódicas de paranóias a longo prazo.
o arrasto por fenómeno de fraqueza e contágio.
a isso eu chamo vegetar.
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
ouvem-se vinis e a madrugada encaixa-se.
chegar a casa e a manhã começa. tudo tão luminoso que aconchega o corpo. e sustenta a carne.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
hotel baccarat
correr a cidade para o encontrar. a sandália verde, atada na perna remendada.
a mala atrás com pulso firme e convicção no andar.
chegar.
a porta de vidro abre.
eternidade.
esquartejamento energético
karma e dharma, derose
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
aldeia da roupa branca
e a dona do café grita por mim ao ver-me passar.
i have a hole in my stomach
so, why don't you find something to fill it with, right now?
otherwise, you'll be hungry for a long time.
tens direito a um subsídio de paz
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
domingo, 20 de fevereiro de 2011
que quase sempre levou com tudo no colo. assim de bandeja.
nunca souberam o que era agarrar com toda a força uma oportunidade, porque dela não dependia a sobrevivência.
o carrinho, a casa, a faculdade, o trabalho e o resto que acumularam sempre foi assegurado pelo papá.
nunca suaram para pagar com o seu trabalho a vida que queriam.
sempre contaram com algo ou alguém que lhes amparasse as quedas.
nunca correram atrás de nada sozinhos.
os sonhos, têm quem se encarregue de lhos realizar.
nunca se levantaram de manhã com o sabor na boca da renda da casa ou da chuva que lhes caiu sobre a nuca no dia anterior. das contas que não se pagam no mês seguinte. nem no outro.
nunca se deitaram com o peso nas pernas dos quilómetros caminhados em busca de um sentido maior.
nunca olharam para um quadro na parede ou uma fotografia dentro de um livro com a certeza de que aqueles momentos foram vividos com a intensidade de ser o último.
felizmente, conheço muito mais gente que sabe o que isso é.
e não tem a casa do papá nem o carro da mamã e acorda de manhã com a força e a garra de fazer continuar os sonhos que insistem em adiar.
e que partilham o pouco que têm. e multiplicam por muito. para dar cada vez mais.
porque isso sim, é tudo o que existe.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
i will shape myself into your pocket
Invisible
Do what you want
Do what you want
I will sink and I will disappear
I will slip into the groove
you cut me up, you cut me up
There’s an empty space inside my heart
Where the weeds take root
And now I’ll set you free
I’ll set you free
There’s an empty space inside my heart
Where the weeds take root
Tonight I’ll set you free
I’ll set you free
Slowly we unfurl
As lotus flowers
‘Cos all I want is the moon upon a stick
Just to see what is
Just to see what is
I can’t kick your habit
Just to fill your fast-ballooning head
Listen to your heart
We were shaking and be quiet as mice
While the cat is away
Do what we want
Do what we want
There’s an empty space inside my heart
Where the roots take place
So now I’ll set you free
I’ll set you free
‘Cos all I want is the moon upon a stick
Just to see what if
Just to see what is
Birds float into my room
Slowly we unfurl
_______
‘Cos all I want is the moon upon a stick
I feel surrounded here
The darkness is for me
I can’t kick your habit
Just to fill your fast-ballooning head
Listen to your heart
open your mouth wide
song
The weight of the world
is love.
Under the burden
of solitude,
under the burden
of dissatisfaction
the weight we carry
is love.
Who can deny?
In dreams
it touches
the body,
in thought
constructs
a miracle,
in imagination
anguishes
till born
in human--
looks out of the heart
burning with purity--
for the burden of life
is love,
wearily,
and so must rest
in the arms of love
at last,
must rest in the arms
of love.
No rest
without love,
no sleep
without dreams
of love--
be mad or chill
obsessed with angels
or machines,
the final wish
is love
--cannot be bitter,
cannot deny,
cannot withhold
if denied:
--must give
for no return
as thought
is given
in solitude
in all the excellence
of its excess.
shine together
in the darkness,
the hand moves
to the center
of the flesh,
the skin trembles
in happiness
and the soul comes
joyful to the eye--
yes, yes,
that's what
I wanted,
I always wanted,
I always wanted,
to return
to the body
where I was born.
San Jose, 1954
the howl, allen ginsberg
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
rêve
Arthur Rimbaud
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
ninguém me avisou
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
on the wall
é por isso que digo.
quem chega
sábado, 12 de fevereiro de 2011
à noite
seria mais um motivo. para dizeres o que nunca dissemos.
pertencer
saber que tudo o que deixamos para trás faz parte de nós.
que sem isso, não seríamos quem somos hoje e quem queremos ser amanhã.
agarrar essa certeza firme, mas em bicos de pés.
navegar, rumar a bom porto. e chegar. querer. ficar.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
a sério
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
hoje
A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.
do you see what I see, dear?
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
superlativo
manhãs
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra...
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
flutuamos
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
os pássaros nascem na ponta das árvores
domingo, 6 de fevereiro de 2011
existe, sim
Uma grande alegria, cheia de repouso e de livração, desconcertou-nos a todos. Trabalhámos meio tontos, agradáveis, sociáveis com uma profusão natural. O moço, sem que ninguém lho dissesse, abriu amplas as janelas. Um cheiro a qualquer coisa fresca entrou, com o ar de água, pela grande sala de adentro. A chuva, já leve, caía humilde. Os sons da rua, que continuavam os mesmos, eram diferentes. Ouvia-se a voz dos carroceiros, e eram realmente gente. Nitidamente, na rua ao lado, as campainhas dos eléctricos tinham também uma socialidade connosco. Uma gargalhada de criança deserta fez de canário na atmosfera limpa. A chuva leve decresceu.
Eram seis horas. Fechava-se o escritório. O patrão Vasques disse do guarda-vento entreaberto, «Podem sair», e disse-o como uma bênção comercial. Levantei-me logo, fechei o livro e guardei-o. Pus a caneta visivelmente sobre a depressão do tinteiro, e avançando para o Moreira, disse-lhe um «até amanhã» cheio de esperança, e apertei-lhe a mão como depois de um grande favor.
bernardo soares, o livro do desassossego
há uma hora
gente feliz
gente infeliz
o que importa é ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.
o êxtase dos anjos
1972, wakamatsu
(...) porque a poesia não é para galvanizar isso
a poesia a poesia
o recôncavo azul do firmamento
que é negro
e outras coisas mais
se ainda é tempo de ver por cima do prato
os vigia os paloma os clandestinos os lâmpara
os invisíveis anjos guardadores
do trabalho que não pode ser adiado
e não esta linguagem de lamento esta linha de rogo que frustra a voz
não este verso exposto a mil vagares na almofada branca de uma página
mil vezes decapitada na praça pública
em oitavas e quartas paralelas e sétimas dominantes cheias de horror
e ainda assim contentes
de bailarem em torno do seu próprio círculo
mas o que na manhã só uma vez quase ouvimos
um para o outro
um dentro do outro
mais interiores à magnificência da espécie
do que aos espaçosos e nobres labirintos do canto
olha o côncavo azul, mário cesariny
this is not simply a metaphor
Tornar a inteligência bela é voltar à não inteligência.
Só é belo o que não é inteligente; porque o inteligente é o não imediato: um passo atrás ou à frente, enquanto o belo é o instante, a superfície tão fina que frente igual a COSTAS, o início é o mesmo que o FIM.
interditar a memória.
a memória é ocupação do espaço.
a memória é o não imediato,
a memória é o inteligente.
O Corpo inteligente é inteligente mas não é corpo porque corpo é estar presente, agora, por completo, e o inteligente, repito o inteligente é o não-imediato, um passo atrás ou à Frente.
a dança não tem Memória.
A criatividade não tem Memória.
O Corpo começa agora no momento que acaba.
O Corpo começa no mesmo sítio que acaba.
O corpo é 1 sítio e 1 tempo e depois 1 outro sítio e 1 outro tempo que não recordam o sítio e o tempo anteriores.
CORPO AMNÉSICO.
Esqueceu porquê aqui e agora.
Aqui e agora e antes nada.
Aqui e agora e depois nada.
CORPO AMNÉSICO e sem projectos.
Cortar-lhe a cadeira dos velhos e o monte donde se vê o FUTURO dos NOVOS.
Um CORPO sem cadeira (não há cansaço porque antes não existiu) e UM CORPO sem VISÃO (o FUTURO é 1 espaço onde ainda não se chegou).
Sem visão não há nenhum lado onde se chegar, e sem cadeira não há sítio onde descansar, portanto só resta ao corpo ser todo aqui e agora e só resta ao corpo dançar.
(Corpo a quem cortaram a cadeira e os olhos).
Gonçalo M. Tavares, «O Livro da Dança», Assírio & Alvim (2001)
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
5 mulheres à volta de utamaro
Kenji Mizoguchi realizou este filme num Japão ocupado e em plena reconstrução norte-americana. Embora o nome e personagem advenham do artista japonês do século XVIII do mesmo nome, a comparação com a própria vida de Mizoguchi é inevitável. O pintor Utamaro procura retratar mulheres de extraordinária beleza, e para tal frequenta assiduamente os bordéis de forma a encontrar as suas modelos. Embora apreciada por diversos admiradores, a sua arte acaba por metê-lo em problemas. Tal como Utamaro, Mizoguchi (admirado por uns e ignorado por outros) desafiou o conservadorismo de MacArthur com temas de emancipação feminina e democracia liberal, conseguindo eventualmente autorização para estejidai-geki, hoje considerado uma obra-prima. Em ciclo “Cinema e Pintura”.
Na Mouraria :)
desde que seja macia, cheire a ti e me deixe moldar o cabelo em madeixas soltas que implicam constantemente com a espuma do colchão e as molas do estrado.
enrolar-me no lençol, era só isso, e enrolar.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
figos
A maneira correcta de comer um figo à mesa
É parti-lo em quatro, pegando no pedúnculo,
E abri-lo para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida,
desabrochada em quatro espessas pétalas.
Depois põe-se de lado a casca
Que é como um cálice quadrissépalo,
E colhe-se a flor com os lábios.
Mas a maneira vulgar
É pôr a boca na fenda, e de um sorvo só aspirar toda a carne.
Cada fruta tem o seu segredo.
O figo é uma fruta muito secreta.
Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico:
Parece masculino.
Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é
uma fruta feminina. (...)
d.h. lawrence
trad. herberto hélder, as magias - poemas mudados para português
igualmente
Hannah Arendt, A Condição Humana
the real thing
It is the real thing
The essence of the truth
The perfect moment
That golden moment
I know you feel it too
I know the feeling
It is the real thing
You can't refuse the embrace
This is so unreal, what I feel
Flood, sell your soul, feel the blood
Pump through your veins, can't explain
The element that's everything
Just clench your fist and close your eyes
Look deep inside, hypnotize
Yes, the ecstasy, you can pray
You will never let it slip away
Like the echoes of your childhood laughter, ever after
Like the first time love urged you to take it's guidance, in silence
Like your heartbeat when you realize you're dying, but you're trying
Like the way you cry for a happy ending, ending
I know
f.n.m.
«still»
pestanejo. duvido. escondo. pensando que sou capaz.
I won't wait
Till you come down
Till you come down
From way high
We were lost
We were forsaken
No compassion
Too high
We were pushed
Into pieces
We were scattered
Full of light
There's no peace
For the vicious
At the ending
I'm Out of sight