sexta-feira, 30 de setembro de 2011
com domicílio
(...)Espreitam-me a alma pelos miradouros abertos. É como se me abrissem o peito e sem folgas, me vissem sempre pronta a vomitar monossílabos que enchem de entusiasmo quem me sente pela primeira vez.
Cobrem-me de palavras, e imagens e sons perdidos no esquecimento dos tempos.
Deus continua a ser a minha mulher-a-dias, que me varre as ruas de mendigos, que me deixa presentes em feriados de santinhos fluorescentes e brilham no escuro e apregoam festas rijas e churrascos e gentes que me sujam os empedrados.
Soubesse Ulisses ao aportar o que despontava das miragens de mil galeras.
Soubesse Cândido perante terramotos e mares que me engoliram de rios, que ruíram as minhas casas e sorveram os vestidos estendidos às janelas de Alfama.
Apetecia-me cortar os sinais que proíbem sentidos e obrigam desvios contrariados. Apetecia-me abrir as ruas a quem as quisesse passar.(...)
antes da hora marcada
semáforo na boavista, castelo do queijo atrás. cruzamento de serralves à vista.
na faixa da direita, aguarda o verde que demora.
calor, vidro em baixo e black rebel motorcycle club. devil's tattoo.
um porshe carrera aproxima-se devagar. pelo espelho vê o brilho preto que contorna a sua sombra minúscula ao volante e se encosta à janela, pela esquerda.
óculos escuros. cabelo desalinhado com aprumo.
menino da foz, só pode.
desce o vidro do pendura. olha como quem precisa de troco.
aguarda os segundos que parecem adivinhar o que lhe sai da boca.
«anda. dou-te um avanço».
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
talvez a everything is new consiga
ou o alberto joão jardim financie o afundamento de porto santo com grande estrondo, em vez do habitual fogo no reveillon da madeira.
waiting in the wings
as if lurking in the dark. surprise me still everyday. :))))))
i'll be home soon. ;)
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
terça-feira, 27 de setembro de 2011
sente-se

Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros)...
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta
traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore (?) e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada (?),
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
fernando pessoa
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
matéria e espírito
Nós hoje estamos ao mesmo tempo na melhor época da humanidade e na pior. Tão depressa sentimos que tudo em nós e em redor marcha uníssono em frente, como subitamente um grande atrito emperra as nossas próprias articulações. Há ao mesmo tempo qualquer coisa que nos desacompanha e qualquer coisa que nos anima. Há caminhos inteiros que terminam súbito e não há caminho inteiro e vitalício. E nós desejamos francamente acertar com a direcção única e onde o único obstáculo seja de verdade o mistério do futuro.
Todo aquele que se lance mais animado pela palavra espírito, não creia que faz mais do que estar sujeito a uma determinante actual. A consciência material, como acontece hoje, dá entrada natural para o campo do espírito. Assim também o espírito tem existência vital segundo a qualidade de consciência da matéria. O espírito apartando da matéria não é deste mundo. Espírito e matéria confundem-se em vida. Acontece, porém, que os fugitivos da matéria transformam em si esse unilateralismo ao ingressar no espírito, e ficam outra vez de banda, inversamente agora, mas como antes. Ora o espírito não tem mais dimensões do que a matéria; são outras, mas idênticas, que se justapõem, poro com poro. Mais digo que quem está saturado da matéria não é o mesmo que aquele que está bem avisado dela; assim é que o fugitivo da matéria há-de forçosamente queimar as asas na própria luz do espírito. O espírito como a matéria, ambos juntos, não se prestam a manejar os outros, mas muito simplesmente a animar cada um. Sempre que cada qual sinta mais necessidade de espírito do que de conhecimento da matéria, há-de fatalmente cair em abstracção de espírito, isto é, salta fora do seu próprio «controle». Do mesmo modo, de nada lhe servirá o «controle» exclusivo da matéria sem a animação própria do espírito.
Acondicionados o espírito e a matéria em cada indivíduo humano, torna-se possível o seu desenvolvimento, o seu progresso e até o seu máximo de amplidão particular.
Não há possibilidade de progresso colectivo que não venha justamente iniciado desde as condições pessoais de cada indivíduo humano. Isto é, o espírito tomado colectivamente não é senão o ponto de encontro das várias direcções individuais. Colectivamente o espírito é o lugar geral da comunicação entre os vários particulares. Porém, partir do espírito tomado colectivamente para atingir e valorizar cada uma das direcções particulares do espírito, é pôr de propósito as coisas de pernas ao ar. Pelo contrário, completamente ao contrário, valorizem-se as condições materiais da vida de cada indivíduo humano (digo indivíduo humano, preferívelmente a indivíduo social, e sobretudo para que não se confunda com indivíduo de profissão dependente imediatamente do Estado), proteja o Estado a vida material e quotidiana de cada um e de todos os particulares da colectividade, que uma vez criada essa confiança de cada qual com a vida material de todos os dias, o espírito lá está iminente em cada caso pessoal dos nossos compatriotas e capaz de com todo o seu ineditismo particular de trazer mais luz para os negócios colectivos do que quantos sistemas políticos lha possam garantir.
Almada Negreiros, Textos de Intervenção
domingo, 25 de setembro de 2011
da fuga
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
de rir até à inconsciência ou morrer a tentar
bolo de chocolate
bolachas recheadas de alegria
gelado de doce de leite
baguins do monte
famalicões e hospitais
lockes cheios de góticos
sol, feirinhas e serralves e bolos de alfarroba mil depois
sinto-me uma baleia.
e penso no que seria disto sem vocês...
swallowed
i'm leery loaded up
loathing for a change
and i slip some
boil away
swallowed followed
heavy about everything
but my love
swallowed sorrowed
i'm with everyone and yet not
i'm with everyone and yet not
i'm with everyone and yet not
just wanna be myself
hey you said that you would love to try
some
hey you said that you would love to die
some
in the middle of a world on a fishhook
you're the wave
you're the wave
you're the wave
swallowed borrowed
heavy about everything
but my love
swallowed hollowed
sharp about everyone
but yourself
swallowed oh no
i'm with everyone and yet not
sábado, 24 de setembro de 2011
i like!
A new unknown device logged into your Facebook account (Saturday, 24 September 2011 at 11:53) from Amadora, 11, PT (IP=..............).(Note: This location is based on information from your ISP or wireless provider.)
Was this you? If so, you can disregard the rest of this email.
sendo que eu não estou nem próximo da amadora, nem estarei tão cedo, gosto de saber que estão a usar os meus dados para fins menos próprios. ser eu é mesmo o melhor que se pode ter. e pelo IP, tudo se identifica :) entretanto, enjoy :) :)
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
da impunidade
estou com a ligeira sensação de que a informação se vira contra nós a todo o momento e que quanto menos plataformas tivermos, menor é a possibilidade de saírem do nosso domínio.
como se os detentores das ditas nos dissessem à laia de senhores do mundo que ali quem manda continuam a ser eles. o gates, ou o jobs ou o zuckerberg. ou o raio que os parta a todos que já nem senhora dos meus tweets sou. chatice pá.
dos sonhos
Even in the state of dream the instruments of the self are not altogether at rest, because scripture states that even then it is connected with Buddhi (intellect). “Having become a dream, together with Buddhi it passes beyond this world.”
philosophy of dreams, swami shivananda
com tantos ladrões, criminosos verdadeiros e assassinos de sonhos à solta, pode-se dizer que isto já levava uma purga.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
daquele cinema
alberto pimenta, a evocação do chimpanzé
terça-feira, 20 de setembro de 2011
do eterno devir
do esquecimento. Para quem sai,
ainda louco de sono, do meio
do silêncio. Uma noite
ingénua para quem canta.
Deslocada e abandonada noite onde o fogo se instalou
que varre as pedras da cabeça.
Que mexe na língua a cinza desprendida.
E alguém me pede: canta.
Alguém diz, tocando-me com seu livre delírio:
canta até te mudares em cão azul,
ou estrela electrocutada, ou em homem
nocturno. Eu penso
também que cantaria para além das portas até
raízes de chuva onde peixes
cor de vinho se alimentam
de raios, seixos límpidos.
Até à manhã orçando
pedúnculos e gotas ou teias que balançam
contra o hálito.
Até à noite que retumba sobre as pedreiras.
Canta - dizem em mim - até ficares
como um dia órfão contornado
por todos os estremecimentos.
E eu cantarei transformando-me em campo
de cinza transtornada.
Em dedicatória sangrenta.
Há em cada instante uma noite sacrificada
ao pavor e à alegria.
Embatente com suas morosas trevas.
Desde o princípio, uma onde que se abre
no corpo, degraus e degraus de uma onda.
E alaga as mãos que brilham e brilham.
Digo que amaria o interior da minha canção,
seus tubos de som quente e soturno.
Há uma roda de dedos no ar.
A língua flamejante.
Noite, uma inextinguível
inexprimível
noite. Uma noite máxima pelo pensamento.
Pela voz entre as águas tão verdes do sono.
Antiguidade que se transfigura, ladeada
por gestos ocupados no lume.
Pedem tanto a quem ama: pedem
o amor. Ainda pedem
a solidão e a loucura.
Dizem: dá-nos a tua canção que sai da sombra fria.
E eles querem dizer: tu darás a tua existência
ardida, a pura mortalidade.
Às mulheres amadas darei as pedras voantes,
uma a uma, os pára-
-raios abertíssimos da voz.
As raízes afogadas do nascimento. Darei o sono
onde um copo fala
fusiforme
batido pelos dedos. Pedem tudo aquilo em que respiro.
Dá-nos tua ardente e sombria transformação.
E eu darei cada uma das minhas semanas transparentes,
lentamente uma sobre a outra.
Quando se esclarecem as portas que rodam
para o lugar da noite tremendamente
clara. Noite de uma voz
humana. De uma acumulação
atrasada e sufocante.
Há sempre sempre uma ilusão abismada
numa noite, numa vida. Uma ilusão sobre o sono debaixo
do cruzamento do fogo.
Prodígio para as vozes de uma vida repentina.
E se aquele que ama dorme, as mulheres que ele ama
sentam-se e dizem:
ama-nos. E ele ama-as.
Desaperta uma veia, começa a delirar, vê
dentro de água os grandes pássaros e o céu habitado
pela vida quimérica das pedras.
Vê que os jasmins gritam nos galhos das chamas.
Ele arranca os dedos armados pelo fogo
e oferece-os à noite fabulosa.
Ilumina de tantos dedos
a cândida variedade das mulheres amadas.
E se ele acorda, então dizem-lhe
que durma e sonhe.
E ele morre e passa de um dia para outro.
Inspira os dias, leva os dias
para o meio da eternidade, e Deus ajuda
a amarga beleza desses dias.
Até que Deus é destruído pelo extremo exercício
da beleza.
Seu ofício é incendiar povoações, roubar
e matar,
e alegrar o mundo, e aterrorizar,
e queimar os lugares reticentes deste mundo.
Deve apagar todas as luzes da terra e, no meio
da noite aparecente,
votar a vida à interna fonte dos povos.
Deve instaurar o corpo e subi-lo,
lanço a lanço,
cantando leve e profundo.
Com as feridas.
Com todas as flores hipnotizadas.
Deve ser aéreo e implacável.
Sobre o sono envolvida pelas gotas
abaladas, no meio de espinhos, arrastando as primitivas
pedras. Sobre o interior
da respiração com sua massa
de apagadas estrelas. Noite alargada
e terrível terrível noite para uma voz
se libertar. Para uma voz dura,
uma voz somente. Uma vida expansiva e refluída.
Se pedem: canta, ele deve transformar-se no som.
E se as mulheres colocam os dedos sobre
a sua boca e dizem que seja como um violino penetrante,
ele não deve ser como o maior violino.
Ele será o único único violino
Porque nele começará a música dos violinos gerais
e acabará a inovação cantada.
Porque aquele que ama nasce e morre.
Vive nele o fim espalhado da terra.
herberto helder, lugar (poema II)
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
da imortalidade
All men fear death. It's a natural fear that consumes us all. We fear death because we feel that we haven't loved well enough or loved at all, which ultimately are one and the same. However, when you make love with a truly great woman, one that deserves the utmost respect in this world and one that makes you feel truly powerful, that fear of death completely disappears. Because when you are sharing your body and heart with a great woman the world fades away. You two are the only ones in the entire universe. You conquer what most lesser men have never conquered before, you have conquered a great woman's heart, the most vulnerable thing she can offer to another. Death no longer lingers in the mind. Fear no longer clouds your heart. Only passion for living, and for loving, become your sole reality. This is no easy task for it takes insurmountable courage. But remember this, for that moment when you are making love with a woman of true greatness you will feel immortal.
hemingway in midnight in paris, woody allen, 2011
do manúbrio
domingo, 18 de setembro de 2011
lisboa que amanhece
Dos ritmos imitados doutra dança
A noite finge ser
Ainda uma criança de olhos na lua
Com a sua
Cegueira da razão e do desejo
A noite é cega, as sombras de Lisboa
São da cidade branca a escura face
Lisboa é mãe solteira
Amou como se fosse a mais indefesa
Princesa
Que as trevas algum dia coroaram
Não sei se dura sempre esse teu beijo
Ou apenas o que resta desta noite
O vento, enfim, parou
Já mal o vejo
Por sobre o Tejo
E já tudo pode ser
Tudo aquilo que parece
Na Lisboa que amanhece
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
irra!!!
4 meses depois, a justiça tarda mas não falha.
a lentidão é que continua a ser o que mais nos resiste.
e obriga-nos a viver ao ritmo dela. quer queiramos, quer não.
até ao dia em que atiramos tudo ao ar e trocamos as regras do jogo.
chama-se a isso revolução.
«i want you your presence as a present.»
i would put on a shiny coat of armor and have a crazy magic sword and fight (and look silly at the same time)
you made my morning. better than the best coffee
a vida
córtex cerebral apinhado de imagens felizes de gente que se abraça.
só quando percebi que perdi uma casa em lisboa mas ganhei 4 ou 5, as vossas, que me esperam sempre, e preparam tudo com carinho, e pensam até ao último pormenor no que é que vamos fazer num sábado à noite finalmente juntos outra vez nessas ruas, é que encaixei a realidade de quanto esta mudança foi uma das decisões mais difíceis mas acertadas que alguma vez tomei.
ganha-se uma nova família. alegre. sem perguntas, sem dúvidas. apenas olhares que acolhem. que abraçam todos os dias.
e pára-se tudo para ouvir. por se saber que o que importa no fundo são sempre as pessoas.
e que se volta sempre ao lugar onde fomos felizes. a luzboa. e que aqui tudo fica em amena calmaria até ao regresso.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
terça-feira, 13 de setembro de 2011
hoje
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhastes súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do que te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente
ruy belo
ontem
era já tarde ao passar por coimbra.
era o costume sempre que vinha do norte.
entrei na loja de vinis junto ao quebra costas e trouxe dois.
e ignorei à grande o aviso ao fechar a porta: não fiques praí a ouvir músicas deprimentes, não?
but it's just the devil in me
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
fecha os olhos e escolhe uma
Forget about being guilty,
We are innocent instead
For soon we will all find our lives swept away