lisboa acordara ácida. há quatro dias que chovia sem parar e as avenidas eram rios de folhas perdidas, caducas e amolecidas, esmagadas nas solas dos sapatos de transeuntes corridos de malas na mão.
lisboa vivia aturdida. ressecava os recantos das esquinas cheias de sombras e castanhas a assar.
quase nunca se deixava tocar. tinha telhados de vidro. luzes entrecruzavam-se e tentavam abrir-lhe o coração com mil pétalas amareladas. aquela cor que apenas ao entardecer reflectia fachadas pombalinas.
milhares de rostos e o seu lhe faltava. gente que chegava e partia em horas pontiagudas de fumos densos.
lisboa vivia acordada. não dormia nas noites luminosas nem nos amanheceres violáceos, à beira do cabo a oriente.
lisboa morria nos seus braços. em todas as vezes que mergulhava dentro de ruínas esconjuradas, encontrava mais um lado desse imenso triângulo que a cercava.
e gritava mais alto.
terra. luz. saudade.
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