sexta-feira, 11 de novembro de 2011

já passaram quantos anos, perguntou ele



ontem foi mais um dia.
e não sei muito bem quando foi que percebemos que ambos escrevíamos para ninguém ver. o rui passava a vida a disfarçá-la com passes de teatro, gírias alentejanas e histórias de évora, do tejo e dos pais que nos recebiam como a matilha de filhos que o tempo pouco lhes dera. pois esta noite li-te e reli-te nas entrelinhas da nossa geração que se vai apagando. vê os sonhos perdidos e encontra no refugo de manhãs mal bebidas o sabor acre da despedida. mas hoje, por ti e pelo tempo que nos passou, também já sou eu que me despeço. hoje és mais tu que ficas e eu que me despeço. é o desnorte que simplifica o não ter de justificar nada. a ninguém. tu sabes. mas vi-te ali e tive a certeza de que tudo se materializara. o carro, os filhos, a casa, até a coluna nos jornais diários, a escrita tão nossa. o amor que se perde. a amiga de quem se gosta tanto que até se lhe confia o único e verdadeiro querer. a paixão. o agosto de intervalo. estamos todos ali. naquele palco. naquele urso feito esquilo. naquelas pessoas que se escondem para ser felizes. que olham para o lado ao ver que alguém chora. que se protegem da chuva. aquilo, somos todos nós. o children of men, o terminator, o reservoir dogs. sim. talvez devesse ir viver para amsterdão. pelo menos a anestesia seria outra e o pilar da ponte não estaria algures entre o tejo e o douro. sim, parece o fim do mundo, pelo menos daquele que construíamos entre pessanha e hélder, nos cafés do polícia ou nas tardes sem fazer nada de nada a desconstruir futuros.
estamos todos ali.

e perdemo-nos pelo caminho.



depois de nós.

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