quarta-feira, 30 de novembro de 2011
da risota ao cair da noite
lembrei-me dela. da mãe, que usava uma expressão muito parecida com esta ;)
que bruxedo, sr. alfredo!!! :D
terça-feira, 29 de novembro de 2011
do clubbing
da tábua rasa
não me lembro de um período em que me apetecesse escrever tanto como ao ler as palavras da patti em washington square, pelas ruas onde ela se sentava, nos bancos e esquinas, alpendres, a pensar no que ia comer nessa noite ou no dia seguinte, enquanto desenrolava mais um poema da algibeira. lembro-me da sensação de estar sozinha, perante o mundo de possibilidades, e de como senti que é isso que nos faz levantar os braços e pormo-nos em marcha. sem ninguém ao lado que nos diga por onde ir. sem a segurança do telhado ou do volante do carro a que nos habituámos ter à porta. nem sequer dos rostos que conhecemos. era tudo estranho, plano e raso de experiências. daí fascinante. daí a necessidade de preencher. de escrever.
agora.
das tuas mãos
gerir
gerir pessoas, a casa, a equipa, os alunos, as metas, a escola, a vida, o tempo, a comida, as contas, os emails, os quilómetros sem fim!
gerir gerir gerir tudo e a sensação profunda de tanta coisa a fazer que quando se termina e se passa à seguinte queremos mais, e mais , e não conseguimos parar nem abrandar porque a vida nos pede mais.
é isto! :)))
gerir gerir gerir tudo e a sensação profunda de tanta coisa a fazer que quando se termina e se passa à seguinte queremos mais, e mais , e não conseguimos parar nem abrandar porque a vida nos pede mais.
é isto! :)))
à 5ª chamada
finalmente a edp entende o que pretendo e já gosta de mim outra vez :)))
mas quando é que os espanhóis tomam conta disto, mesmo?
mas quando é que os espanhóis tomam conta disto, mesmo?
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
hoje aconteceste assim
porque há dias em que além de fugidio te apressas a descer a cara para o lado da mesa. e só aí te levantas e me trazes algo que vista pelas costas. mas hoje deixaste que te encontrasse assim.
não sei porquê, paraste. e captei-te para sempre.
domingo, 27 de novembro de 2011
a vida
biqueira de aço
As pessoas acreditam praticamente em tudo, desde que não seja verdade. E fazem bem. Já que a verdade é desinteressante, aborrecida, perturba o bom andamento das coisas e ensombra a vida. Pelo contrário, a mentira move multidões, empolga a opinião pública, anima a política, abastece os media, favorece os negócios. Num tempo em que a imagem é tudo, em que importa mais a aparência do que a essência, em que o simulacro é mais determinante do que o real, só os fracos e inadaptados cedem à verdade.
A mentira é o que faz mover o planeta.
A mentira é o que faz mover o planeta.
agora que nos recostamos um sobre o outro
Fizeste-me mil maldades
e uma maldade muito grande
que não se faz
acho que devo ter sido a pessoa
a quem fizeste mais maldades
nem deves ter feito a ninguém
uma maldade tão grande
como a que me fizeste a mim
não sei se tens remorsos
tu dizes que não tens remorsos nenhuns
porque dizes que és um vil criminoso
para mim
eu também sou uma vil criminosa
mas não para ti
desconfio que tens o remorso
de ter alguns remorsos
por teres feito mil maldades
e uma maldade muito grande
a maldade muito grande está feita
e não se faz
acho que essa maldade muito grande
nos aproximou um do outro
em vez de nos afastar
mas para mim é um drôle de chemin
e para ti também deve ser
mas com um vil criminoso nunca se sabe
adília lopes
árvores que não voltam a crescer
Enquanto a sombra repetir no chão o teu corpo inteiro eis que te encontras vivo e completo.
Gonçalo M. Tavares, A máquina de Joseph Walser
imediatamente embora pouco a pouco
... Vou-te amar intensamente como nunca. Amei-te com avidez precipitação impreparação juvenil. Havia uma distância enorme de permeio e eu tinha de a preencher. Amei-te depois com luxúria como se diz no catecismo. E amei-te como cumprimento de um horário semanal. Com raiva humilhação quando andaste, eu nem sei se andaste lá com o teu colega do patarata. E porque é que não sei? Minha querida. Tinhas um grande orgulho ou vaidade no teu corpo, e desde a história do Bem sei lá o que tu querias. Seduzir, dares aos outros a possibilidade de partilharem do maravilhoso de ti e acirrares-me domesticares-me obrigares-me a ajoelhar.
Silêncio - e já falei tanto.
Vou pôr na rua da lembrança tudo o que não for da tua nudez, a amargura vexame sofrimento. Mesmo as alegrias que não são para aqui. Mesmo os filhos que também não - A vida inteira que passou. Preciso tanto de te amar - e como te vou amar? Não sei.
Vou-te amar com o infinito da tua perfeição.
Silêncio - e já falei tanto.
Vou pôr na rua da lembrança tudo o que não for da tua nudez, a amargura vexame sofrimento. Mesmo as alegrias que não são para aqui. Mesmo os filhos que também não - A vida inteira que passou. Preciso tanto de te amar - e como te vou amar? Não sei.
Vou-te amar com o infinito da tua perfeição.
Vergílio Ferreira, Em Nome da Terra
sábado, 26 de novembro de 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
a pele é salgada
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
eugénio de andrade
do olimpo
Preocupo-me com os deuses. O meu tridente não enxerga divindades. Mesmo no céu, no último reduto que julgava possível eles já o abandonaram. É novo mistério para explicar, para filósofos e religiosos penetrarem no poder das cogitações. Emigrados na terra, sem mar e sem espaço os deuses ficam mais limpos, mais puros, apeados da parafernália dos domingos e feriados.
Ruben A.
Ruben A.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
bullseye!
muitas vezes parece que o diabo bate à nossa porta, mas é simplesmente o limpa-chaminés.
christian hebbel
christian hebbel
da falácia
ou de como cheguei ao tca para ver chaplin e saí de lá com uma peça de teatro no bolso.
só no porto, disse-me um amigo ao contar que cheguei à bilheteira do teatro do campo alegre, e um senhor de barbas brancas, com alguma idade, me chamou de menina, sim a menina, já tem bilhete para hoje, e que eu, algo confusa por não saber se se dirigia a mim, disse que ia comprar, que a sessão daquela noite podia estar concorrida, referindo-me eu ao cinema, claro, ao maravilhoso ciclo de chaplin, nunca à peça da falácia que estava em cena ali na sala ao lado. ouvindo isto, ele nem hesitou e sacou de um bilhete convite que tinha a mais, sem mais nem menos dizendo que apenas poderia ser aborrecido para mim sentar-me ao lado dele, e não acreditando que me dava um bilhete para a peça, sem mais nem outra, calei-me, e depois de entender o que pretendia, enchi-me de argumentos que não podia aceitar e tal, mas ele não os quis sequer ouvir. deixou-me o bilhete na mão e na cara um sorriso de orelha a orelha.
pois não vi chaplin mas presenciei falácia de carl djerassi pela seiva trupe.
ponto. sim, sem argumentos. só no porto.
só no porto, disse-me um amigo ao contar que cheguei à bilheteira do teatro do campo alegre, e um senhor de barbas brancas, com alguma idade, me chamou de menina, sim a menina, já tem bilhete para hoje, e que eu, algo confusa por não saber se se dirigia a mim, disse que ia comprar, que a sessão daquela noite podia estar concorrida, referindo-me eu ao cinema, claro, ao maravilhoso ciclo de chaplin, nunca à peça da falácia que estava em cena ali na sala ao lado. ouvindo isto, ele nem hesitou e sacou de um bilhete convite que tinha a mais, sem mais nem menos dizendo que apenas poderia ser aborrecido para mim sentar-me ao lado dele, e não acreditando que me dava um bilhete para a peça, sem mais nem outra, calei-me, e depois de entender o que pretendia, enchi-me de argumentos que não podia aceitar e tal, mas ele não os quis sequer ouvir. deixou-me o bilhete na mão e na cara um sorriso de orelha a orelha.
pois não vi chaplin mas presenciei falácia de carl djerassi pela seiva trupe.
ponto. sim, sem argumentos. só no porto.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
a velha senhora
Permaneço ali, sentada à mesa com a mão no queixo, apenas fisicamente porque a minha alma desprendeu-se do corpo e viajou, numa velocidade incrível, por lugares que eu jamais pensei que voltaria e que agora tenho absoluta certeza que jamais esquecerei.
São 16h22m, tenho que ir. Recolho os meus pensamentos e deixo a velha senhora a pensar por ela e por mim. Levanto e saio lentamente. Passo pela minha companheira de pensamentos e sinto vontade de interromper a sua “viagem” com um delicado e carinhoso boa tarde, mas desisto e sigo o meu caminho.
domingo, 20 de novembro de 2011
não sei onde pertenço
a vida não cabe numa teoria
A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.
Miguel Torga, Diário (1941)
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.
Miguel Torga, Diário (1941)
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